Reflexão sobre o Ensino Universitário

   Como última publicação neste blogue gostaria de refletir um pouco sobre uma entrevista que me interessou recentemente e acredito ser bastante pertinente para o âmbito da presente unidade curricular mas também para a situação atual do ensino em Portugal. Trata-se da entrevista concedida pelo Professor José Pacheco ao “podcast” "45 Graus" da autoria de José Maria Pimentel. A entrevista foi publicada no dia 11 de maio de 2022, mas apenas recentemente tive oportunidade de a ouvir, mas despertou-me para vários assuntos que gostaria de discutir nesta publicação.

    Para quem não conhece, segue a apresentação que o entrevistador José Maria Pimentel empregou. "Conhecido pedagogo e educador, José Pacheco é fundador de alguns dos projetos mais icónicos e controversos da educação mundial como Escola da Ponte e Escola Projeto Âncora. Convidado assíduo de Escolas em todo o mundo, as suas palestras em Ted Talks já foram vistas por mais de meio milhão de pessoas, sendo uma das individualidades mais prestigiadas no mundo da educação. Hoje é Cofundador e Coordenador Pedagógico da Open Learning School, aquela que considera a única escola do Séc. XXI".

   A primeira questão que esta entrevista levantou foi a seguinte: se só existem exames porque existem vagas, por que é que existem vagas? Desde que me lembro de pensar sobre o ensino que encaro os exames nacionais como um mal menor, uma vez que não conseguia pensar numa melhor forma de selecionar quem ingressa ou não no ensino superior. Esta entrevista provou-me que apesar de me considerar alguém que não acredita em "verdades absolutas" sou bastante limitado pelas ideias que me rodeiam. Questionar as coisas é o único caminho para o progresso, portanto, deixo esta questão. A minha tentativa de resposta seria que parece bastante plausível uma realidade sem exames nacionais e sem vagas. Olhemos então para o caso do Mestrado de Ensino que frequento, a necessidade de aulas presenciais é próxima de nula, e não consigo ver outra razão para se limitar os colocados num curso se não pela capacidade das infraestruturas. Viremo-nos então para as infraestruturas digitais, salas de conferências infinitas onde podíamos estar a formar dez vezes mais professores do que fazemos agora. Vocês perguntam "Gonçalo, depois como podem os alunos do mestrado usufruir da componente da prática de ensino supervisionada do mestrado?". Para responder a esta questão temos de libertar os Professores Universitários de um papel que estes não deveriam ter, lecionar aulas. Acredito que estes deveriam ser orientadores dos trabalhos/projetos que os alunos têm de realizar. As possíveis dúvidas dos alunos seriam esclarecidas em formato de tutoria marcada com os alunos que sentissem essa necessidade. A componente "académica", chamemos-lhe assim, do Mestrado de Ensino seria completada através da realização de uma panóplia de trabalhos/projetos com aproveitamento. Estes podiam ser apresentados com a ordem e velocidade que cada alunos desejasse, tendo em conta a sua disponibilidade. Já a componente da prática de ensino supervisionada poderia ser realizada nas escolas onde os alunos residem. Por que razão não posso fazer o meu estágio numa escola de Évora? Se diminuíssemos substancialmente, as horas de aulas dos Professores do Mestrado não estariam disponíveis para assistir a uma aula por semestre (ou por ano, como vai acontecer com alguns dos meus colegas), de cada aluno, um pouco por todo o país. A escassez de professores não se combate com a colocação de licenciados sem qualificações para o papel que vão desempenhar, mas sim a criar condições para que se possam formar mais. Resumindo, não precisamos de exames nacionais se qualquer pessoa puder frequentar qualquer licenciatura. Isto seria possível se alterarmos o papel do Professor Universitário.

    A segunda questão que queria discutir, "Está 12 anos a ouvir aula, entra na faculdade, dizem-lhe que o centro é o aluno, mas dão aula, eles vão dar aula. Obedecer a um diretor que obedece a ministério". Este tema é algo que discutimos muito nos corredores do IGOT e IE, já que diariamente nos é exigido algo por quem não cumpre aquilo que exige. "Faz o que eu digo, não faças o que eu faço." É pedido aos futuros que lecionem como nunca viram ser feito. Os professores Universitários passam 2h de aula a falar, os orientadores nas escolas, na sua grande maioria, também. Quem são os exemplos que devemos seguir? Desta forma temos de reproduzir nas escolas metodologias que só vimos escritas em papel, nunca aplicadas. Claro que o primeiro instinto quando tivermos uma mão-cheia de turmas à nossa frente vai ser aplicarmos aquilo que nos é mais confortável, aquilo que vimos fazer a nossa vida toda. Quando estivermos confortáveis no papel de professor já será tarde, seremos apenas mais um formatado e embrenhado na rotina e na repetição. Qual é a solução? Cada um de nós, professores, não se pode achar menos responsável pela mudança do que o outro, temos de dar o exemplo em vez de ditar o exemplo. 

    Deixo o link para o podcast caso estejam interessados. https://45graus.parafuso.net/2022/05/11/121-jos-pacheco-o-que-est-mal-na-escola-tal-como-a-conhecemos





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