Os altos e baixos da Geografia.


    A quarta sessão de IPP II ocorreu no dia 11/10/2022, como grande parte do que foi discutido nesta sessão não tem grande relevância para este blogue, decidi abordar também a quinta sessão referente ao dia 18/10/22.

    Ainda na quarta sessão discutimos as datas em que vamos lecionar as aulas nas respetivas escolas, para que o Professor pudesse organizar o seu calendário de observações. A minha aula que o Professor vai observar já tinha sido marcada para o dia 24/10/22, a última aula que irei lecionar este semestre. Foi ainda questionada a legalidade da inclusão da informação dos alunos no relatório, o professor diz que devem ser utilizados pseudónimos.

Neste sentido, o inquérito de caracterização de uma turma deve conter:
  • Nº;
  • Idade;
  • Disciplinas preferias;
  • Disciplinas preteridas;
  • Lugares que visitou e quais gostou mais?
  • Atividades nos tempos livres;
  • Atividades preferidas em geografia.

    Já a quinta sessão começa com a referência ao sentimento nacionalista de identidade através do mapa de Portugal nas salas do primeiro ciclo. Hoje existe uma reformulação da identidade desejada, por isso mesmo temos mapas da Europa na sala de aula. Do que me consigo recordar na minha escola, em quase todas as salas havia um mapa que apresentava ZEE portuguesa, aludindo a uma retórica de que Portugal é maior do que aquele pequeno retângulo no extremo ocidente da Europa. Este mapa tem uma intenção claramente nacionalista, de promoção do orgulho português, ou seja, identidade nacional.   




    Foi também discutida a razão pela qual identificamos os E.U.A e Brasil como países muito nacionalistas. Existe uma relação entre a data em que esses países foram instaurados e a sua carga nacionalista. Quanto mais recente o país, maior a necessidade de fabricar uma identidade nacionalista para unir a população. 

    No momento seguinte abordámos novamente a separação das disciplinas da Geografia e História que ocorreu no dia 20 de outubro de 1888. Esta independência agradou tanto a geógrafos e professores de história como ao próprio governo que queria promover uma visão do império português. É posta em prática então uma reforma com o intuito de se estudar as colónias. Começa-se assim a dar destaque às colónias, mantendo sempre presente o discurso nacionalista, dada a importância de não restarem dúvidas de que aquele era território português.
 
    Por fim entendemos que a Geografia transfigura-se conforme as ideologias políticas da época. Isto não é uma surpresa já que o ensino concordará com as ideologias dos ministros que o gerem,  e por consequência toda a ciência será afetada. A geografia não é exceção nem que seja pela carga nacionalista do regime ideológico. 

    Em 1905 a Geografia separa-se novamente da disciplina de história, dando a ideia de valorização da mesma.
      Já com a Primeira República observou-se uma desvalorização da disciplina de Geografia. O foco foi principalmente nas, disciplinas de português e história. Em consonância com esta desvalorização, em  1930 a disciplina de ciências da natureza engloba a Geografia. As relações coloniais são o principal promotor da Geografia. A escola colonial, que pretendia formar quadros superiores para as colónias, estava sediada na sociedade de geografia de Lisboa. 
 
     O período Salazarista, dá destaque à História e Geografia, dada a sua ideologia profundamente nacionalista. Como já foi discutido neste blogue, a aposta na geografia e na história está fortemente ligada à identidade nacional e por consequência são promovidas regimes nacionalistas.
 
    O pós-Segunda Guerra Mundial, trouxe um espírito anticolonialista, uma ansiedade de paz. Em 1961 começam as guerras coloniais. Nos anos 1968-69, em Portugal, o regime responde a este movimentos substituindo as ciências Geográfico Naturais pela História e Geografia de Portugal. Esta tinha como objetivo exaltar o vasto território português que incluía as colónias formando jovens pro colonialismo. 

    O 25 de abril olha com desconfiança para a História e Geografia. A sua associação a regimes nacionalistas por todo o mundo, como o plano expansionista da Alemanha nazi, mas especialmente durante o estado novo, fornece-lhes esta má fama. Foi então criada uma alternativa à geografia, nascendo as disciplinas "Ciências Sociais" e "Ciências do ambiente". 

    A Geografia é reintroduzida nas escolas portuguesas em 1977-78. Uma disciplina tradicional com base na memorização. Em 1987, com o receio da subsistência da disciplina, é fundada a Associação de Professores de Geografia. A adesão de Portugal à CEE promove a reforma curricular de 1989 que pretendia promover o europeísmo. Para tal o 7.º ano passou a dedicar-se ao estudo da Europa, o 8.º ano não tinha Geografia e o 9.º ano abordava a Geografia Mundial. 

    O ano de 1992 pressupõe uma tentativa de reforma com terminologias novas nos programas, tais como, atitudes/valores, capacidades/competências e conhecimentos, tal como encontramos nas aprendizagens essenciais (programa atual). Os professores reivindicam o estudo de Portugal, e perante este protesto, a Geografia do ensino secundário passa a abordar Portugal.

    A partir de 2001 ganha força ensino por competências em detrimento dos conteúdos. Algo que no meu entender deve ser o foco do ensino, principalmente de uma disciplina com a Geografia, em que o principal objetivo deve ser formar cidadãos capazes de enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais complexa. As competências vão ser indispensáveis aos alunos, promovendo a componente prática das disciplinas, para simular cenários reais. Os conhecimentos, por si só, são enchimento para cérebros cansados.

    Em 2007 é criado o mestrado em ensino de história e Geografia, o que desvalorizou as duas disciplinas, por não haver uma formação específica para cada uma delas. Nesta fase os professores não ensinavam conforme o desenvolvimento de competências. No ano de 2010 são apresentadas as metas de aprendizagem, mais focadas nos resultados do que nas aprendizagens.
A separação entre Mestrado em Ensino de História e o Mestrado em Ensino de Geografia ocorre em 2011.

    Atualmente estão em vigor as aprendizagens essenciais e o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória, documentos que vão ao encontro daquele que eu idealizo como o melhor ensino possível. Ainda assim esse ensino ainda não se concretizou, resta saber como colocá-lo em prática, algo que os documentos por si só não conseguiram. 

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