Geografia Global e Liberalismo
A segunda sessão de Iniciação à Prática Profissional II, teve lugar no IGOT, no dia 27 de setembro de 2022. Esta começa com uma revisão daquilo que foi debatido na publicação anterior. Recordaremos então os três pilares da identificação com uma nação: o território; a língua e a ascendência. Estes elementos são característicos do estado liberal, com origem na revolução francesa e é depois replicado nas revoluções liberais. Em Portugal destaca-se a Revolução de 1820.
O momento seguinte ocorreu quando bateu à porta da sala o Professor Ricardo Garcia, Professor Assistente no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT). O motivo da sua presença está relacionado com a questão das unidades curriculares optativas relativas ao presente semestre do nosso mestrado. Grande parte dos alunos, grupo onde me incluía, não conseguiram inscrever-se nas unidades curriculares que desejavam frequentar, no meu caso era Geopolítica. A presença do Professor Ricardo Garcia na sala serviu para resolver essa situação e apresentar uma lista de unidades curriculares alternativas onde nos poderíamos inscrever. Inscrevi-me na unidade curricular de Inovação em Turismo como alternativa. No meu entender não é aceitável que um instituto como o IGOT em todos os semestres nos apresente uma panóplia de unidades curriculares optativas, quando na realidade a "opção" é uma ilusão, uma boa preparação para a vida portanto.
Retomando a sessão de IPPII...
Assim como a Geografia estará sempre associada à identidade nacional, também a política portuguesa influencia o sentido da disciplina. O ano de 1986 é um exemplo disso mesmo, com a entrada de Portugal para a CEE a disciplina de Geografia muda o seu foco, que anteriormente era a nação, mas nesse momento foi substituído pela Europa. A intenção era criar nos estados-membros um sentimento de europeísmo, mantendo assim a coesão da nova instituição (CEE).
Ainda hoje é notória a importância dada à adesão de Portugal à CEE nos manuais escolares, ainda que a mesma tenha acontecido há cerca de 36 anos. Isto deve-se ao facto dos professores que escrevem os manuais e lecionam hoje nas escolas, terem presenciado esta mesma adesão que foi impulsionadora de uma grande mudança no país.
Em relação às escalas mais ou menos privilegiadas na geografia podemos identificar três:
- Local – esta escala não é privilegiada no ensino da geografia.
- Global – privilegiada principalmente no ensino básico, ainda que mesmo no secundário, a escala nacional é muitas vezes colocada em perspetiva em relação à escala Europeia e Global.
- Nacional – privilegiada no ensino secundário.
Podemos então assumir que a escala local está geralmente afastada dos conteúdos da Geografia escolar. Quais serão as consequências deste fenómeno? Quando muito se fala em adaptar os conteúdos ao contexto dos alunos, parece um contrassenso dizer que a escala local não é tida em consideração quando esta é a única que muito alunos conhecem. Os fenómenos locais são muitas vezes reflexos em miniatura dos fenómenos globais, desse modo seria desejável que a Geografia promovesse a resolução de problemas locais com o intuito de proporcionar as competências necessárias para no futuro conseguirem ajudar a resolver os globais. Como pode um aluno do interior do país interessar-se pela poluição dos oceanos se essa não o afeta no seu quotidiano?! Talvez fosse importante alertá-lo para uma questão ambiental próxima para que a seguir este se possa colocar no lugar do "outro" e compreender os problemas ambientais.
Nesta sessão abordamos ainda o Iluminismo e os fundadores da enciclopédia, Denis Diderot e D’Alembert. Os enciclopedistas abordam a realidade a uma escala global, dizem-se cidadãos do mundo. Como encaram o mundo como um sistema nos mapas feitos pelos enciclopedistas, a serra algarvia é prolongada até Espanha, como sabemos hoje, erradamente. O geógrafo que acompanha esta perspetiva em Geografia é Humboldt. Para este fazer ciência é estudar o mundo, tendo viajado pela América do Sul, com exceção do Brasil, pois D. João IV temeu a investigação de Humboldt.
Em 1772, a reforma pombalina da Universidade de Coimbra, associa-lhe o paradigma do iluminismo. A geografia da Universidade de Coimbra é à escala mundial, tendo favorecida a proliferação desta geografia global em todo o país. Por fim, o Professor Sérgio apresenta alguns livros que mostravam o paradigma científico do iluminismo/racionalismo, como o “Geografia e Chronologia, com seu Atlas Apropriado” (1830) de Frei José de Sacra Família, que indica que todos os países devem ser tratados por igual.
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